Sobre Protecionismo, Carros e Motos
- Danilo Cheid
- 10 de ago. de 2018
- 3 min de leitura

Todo mundo tem um gosto pessoal, sejam carros, motos, videogames, fotografia, etc. e muita gente não gosta ou não tem interesse em política. Mas, por bem ou por mal, decisões políticas e econômicas afetam a vida e os hobbies de todos, por isso, é importante sempre estar a par desse tipo de coisa. Mas por quê estou escrevendo sobre isso em um site de carros e motos? Nesse ano (2018), Donald Trump, já notório por suas políticas protecionistas em favor dos EUA, aumentou as tarifas de importação de aço e alumínio europeus, para 25% e 10%, respectivamente.
Pessoas com viés econômico nacionalista e protecionista verão isso como algo bom, como o presidente protegendo o seu país dos interesses externos, ou algo do tipo. Mas isso passa longe da verdade.
Como retaliação, a União Européia, representada pelos seus 28 Estados-Membro, decidiu fazer uma "caça às bruxas econômica" contra os EUA, buscando atacar empresas símbolo americanas, como a Levi's, produtoras de Whiskey, e a Harley-Davidson, um dos maiores símbolos da cultura norte-americana.

Como ela vai fazer isso? Aumentando as tarifas de importação desses produtos para entrarem na Europa. Então, motos americanas com mais de 500cc (basicamente todas as motos que a Harley fabrica) terão suas alíquotas de importação aumentadas. Para a HD, isso será um enorme golpe, pois, ela já vem sofrendo com quedas nas vendas, e buscava reverter esse cenário aumentando suas vendas no exterior.
Graças à essas decisões, o povo americano vai ter que pagar mais em suas motos, mesmo que essas sejam feitas em territorio nacional. E não é só. Terá que continuar pagando caro nos metais, que agora serão principalmente americanos, diante da falta de concorrência externa, os permitindo cobrar mais por seus produtos.

Ao mesmo tempo, a Harley-Davidson sofrerá com uma queda nas vendas européias, o que gera diminuição dos lucros e uma possibilidade de corte de empregos tanto nos EUA quanto na própria Europa.
Enquanto isso, as empresas européias que exportam metais sofrerão com perdas nas vendas, diminuindo lucros e possibilitando cortes de empregos também.
Da mesma forma, os europeus que desejam ter uma moto americana em sua garagem, terão que pagar mais caro nos produtos, única e exclusivamente por conta de aumentos de tributos. Isso não fere só a pessoa que quer comprar uma moto, mas toda uma rede de venda e manutenção (centenas de concessionárias, oficinas e lojas) que é prejudicada com essas decisões.

Então, uma "guerra tributária" entre uma América protecionista e uma Europa vingativa que retruca esse protecionismo com mais protecionismo, leva a prejudicar trabalhadores, consumidores e empresários de ambos os lugares.
Já na Terra Brasilis
Aqui a completa proibição de importação de itens do exterior para o Brasil, entre eles, os carros, fez com que as poucas empresas que fabricavam dentro do país ganhassem um mercado com baixíssima competição, e puderam literalmente oferecer o que bem quisessem para o consumidor brasileiro. Assim, por duas décadas, o mercado automotivo brasileiro era composto por carros mais atrasados tecnologicamente, mais inseguros e muito mais caros que os de outros países.
E não é só. O consumidor brasileiro sofreu novamente com o Inovar-Auto, que tinha roupagem de bem feitor, mas gerou efeitos diversos efeitos negativos no mercado brasileiro. O programa, terminado em 2017, aumentava as alíquotas de importação para carros feitos fora do Brasil e limitava o número de unidades que poderiam ser importadas. Ou seja, marcas que não possuíam uma planta industrial no país, sofreram grandes restrições de comercialização.

À primeira vista, isso parece algo bom, pois, geraria mais empregos industriais no país. Contudo, surtiu o efeito de diminuir os empregos no setor de serviços, que paga, em geral, melhores salários que o de produção. Tal situação ocorre, pois, as empresas que apenas importam tem veículos mais caros, que venderão menos, além da restrição do volume de importação. Portanto, têm um número bem menor de concessionárias e redes de assistência técnica, diminuindo os empregos nesses setores. Diminui-se, também, os empregos nos setores responsáveis pelas compras externas, pelo processo de importação, etc.
Por fim vale citar a falta de competição. Ou seja, as empresas que possuem plantas industriais aqui tem menos competidores. Isso faz com que os preços sejam maiores como um todo, os produtos sejam piores, e a oferta de modelos diferentes seja mais escassa. Por isso, se deve tomar cuidado ao eleger políticos e grupos com agendas de protecionismo e isolamento econômicos.
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